“Como é possível abordar o tempo e o espaço plasticamente? É fácil compreender que a literatura utiliza o tempo para organizar a narrativa e a arquitetura manipula o espaço. Nas artes visuais do passado, o tempo foi usado tipicamente para marcar um momento crítico da narrativa (como nas pinturas de gênero) ou instaurar a idéia de eternidade (como nas naturezas-mortas). Durante o Renascimento, superou-se a expectativa de representar o espaço real, segundo as distorções da visão (com a perspectiva). Modernamente, os futuristas tentaram se adequar às máquinas e às cidades (a repetição de formas foi o principal recurso para criar espaços ritmados); os cubistas procuraram soluções para a dimensão espaço-temporal que não fossem lineares, para dar conta da complexidade da narrativa (através da colagem).
Hoje em dia, com o desenvolvimento das tecnologias, o deslocamento e a comunicação se tornaram rápidos e eficazes. No entanto, a sociedade que convive e super utiliza tais meios perde os parâmetros de distância: do tempo e do espaço. Nesta indistinção entre passado e presente, longe e perto, o indivíduo não tem como processar (ou simbolizar) a moda, a arte, a política e até mesmo as relações humanas: as coisas tendem a ser cada vez mais efêmeras e sem significado. Desta forma, justifica-se esta mostra de arte contemporânea: cada artista lança mão de um dispositivo que dispara, tensiona, estendeprovoca a percepção da relação espaço-temporal, quebrando o que Nelson Brissac chamou de “ditadura da visão imediata”, distanciando-nos da banalização.”
Texto de Gisela Benatti